terça-feira, 15 de novembro de 2011

O amor não tem GPS, baby.

Nem precisamos ir ao mar para ver o nosso amor morrer na praia naquele derradeiro feriadão do ano.

Nosso amor morreu na doutor Arnaldo, depois da sala de velórios, na frente das bancas de flores, rosas vermelhas que sustentam amores falidos, girassóis, gerânios, belos arranjos que fazem milagres e livram os maridos culpados no engarrafamento.

Nosso amor morreu na correria para fugir de SP, babilônicos corações de fumaça a 10 km por hora, como os tílburis que conduziam os Bentinhos e Capitus no século XIX do outro lado da via Dutra.

Nosso amor tinha pressa, largou o automóvel e saiu caminhando, melancólico, entre motoboys e miragens, crepúsculo cubatanesco a escorrer do nariz, nosso amor era um boi na frente dos carros.

Nosso amor era um atropelo e a gente mal tinha tempo para fazer-lhe um dengo, um cafuné, uma cócega, um bilu-bilu, nosso amor era um tomagushi, um bichinho virtual criado e nascido como uma planta em uma janela do Minhocão em SP.

Minutos antes, nosso amor foi visto saindo do Paraíso e saltando na Consolação, a linha do último metrô de todos os amores expressos.

Aí nosso amor, puto da vida, bebeu, cheirou cola, acendeu o cachimbo na Cracolândia, perdeu os óculos, fez besteira na rua Augusta e quando alcançou o vale do Anhangabaú já nadava na correnteza em cima de um sofá velho cujo estofado denunciava lágrimas e esperas de outros casais.

Nosso amor não conseguiu dormir direito nesse dia, zumbizou geral o malaco, perdeu-se como Esperanza, a linda boliviana de Cochabamba, Penélope que tece o interminável manto e nada espera nas fabriquetas de trabalho escravo do Bom Retiro.

Não existe GPS para o amor em SP, ele vai se perder de qualquer jeito.

Na Boca do Lixo, no varejão Ceasa das desavenças, no Beco do Batman -o pequeno labirinto na foto acima-, na São João com a Ipiranga, na eternidade leste da avenida Sapopemba ou na linha sul da Estrada das Lágrimas.

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