quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Loja de Histórias

Quer fazer uma troca? Você envia uma foto sua (que você mesmo tenha fotografado, não vale selfies, rs) e recebe de volta um conto baseado naquela sua imagem. É assim que funciona na Loja de Histórias, um ambiente de trocas e riquezas infinitas criado por Pedro Fonseca.

Eu ainda não mandei minha foto, mas sou freguesa já faz algum tempo. Recentemente revisitando a lojinha encontrei um texto muito, muito bom, com uma foto muito, muito boa e aí eu fiquei muito, muito apaixonada.

A foto é do Luiz Cunha, e o texto do Pedro se chama: Olha aqui o meu olhar.



Em cada dose de espanto, havia um quase-riso, um encanto, via-se a face que atinge a mão –o tapa reverso. E eu que não sou de encarar, baixei a cabeça uma vez mais, em vão, um vão aberto aos meus pés enquanto fechei os olhos –para não te encarar– mas ao tornar a te ver, diante, bem adiante, radiante, ainda estavas lá, ainda havia o espanto. Meu, este. Que mulher é essa que me cega? Quem é, essa que me desafina? Quem, a que me contorce? De onde vens? Pergunto o teu nome, dizes que não é preciso, que estamos ali há tanto tempo, interrompe o barulho urbano que faço com um silêncio de casa no mato. Não te preocupes, segues a dizer baixinho (mais que sussurro, menos que confissão), para nós dois estamos diante do fim do caminho, não importa de onde venho, nem a ti, nem a mim, não importa de onde vens, também. Viemos ao encontro do outro, sem marcar, sem agenda, que dia é hoje?, pergunto espantado.

Numa radiola de ficha do bar fuleiro do outro lado da rua, bêbados percorrem o repertório clichê até que um grita –para!– e todos param. Encontrou o que queria: canto, silencioso/sem nota, sem melodia/quem diria que você viria e eu iria/e te veria/era só um dia, outro/dia de chegar ao fim/cadê o espaço de nós dois?/cadê?/onde a gente mal cabia em si/sim, sei que hoje me verás/enfim/para a história que há em mim/olha aqui o meu olhar/é teu.

No dia em que a conheci, foram estas poucas, as palavras trocadas e a música distorcendo na vitrola velha, nossa trilha sonora para o fim da tilha de vida. Da minha incapacidade de trocar os olhares, as palavras poucas trocaram de boca enquanto nos beijávamos. Parece que foi ontem. Que dia é hoje, repito, pergunto. Dia de chegar ao fim nos caminhos sem volta. O teu, a mim. O meu, a ti.

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