Eu queria escrever sobre Ana, mas ainda é cedo, eu não sei, não sei se posso e, finalmente, vejo que não quero. Sobre a vinda de mamãe e papai até aqui, também não: falta qualquer novidade a esse respeito – a não ser que valha a pena anotar que reencontrar papai depois de três anos é como reencontrar um velho amigo que não via há três dias; e reencontrar mamãe depois de dois anos é como ser apresentado a alguém cujo nome, fama e aventuras eu já conhecia de sobra e que, portanto, me pareceu estranha, distante, mítica. Mais ou menos assim. Mas prefiro escrever sobre este lugar e minha vida dentro dele. A melhor sensação é a de reconquistar inteiramente o anonimato no contato diário com meus pares de hospício. Posso gritar: “meu nome é torquato neto, etc., etc.”; do outro lado uma voz sem dentes dirá: meu nome é vitalino; e outra: o meu é atagahy aqui dentro só eu mesmo posso ter algum interesse: minhas aventuras, nem um pingo. Meu nome podia ser, José da Silva – e de preferência, mas somente no que se refere a mim. A eles não interessa. O dr. Osvaldo não pode fugir. nem fingir: mas isso eu comecei a ver, de fato, logo mais quando teremos nossa primeira entrevista. O anonimato me assegura uma segurança incrível: já não preciso mais (pelo menos enquanto estiver aqui) liquidar meu nome e formar nova reputação como vinha fazendo sistematicamente como parte do processo autodestrutivo em que embarquei – e do qual, certamente, jamais me safarei por completo. Mas sobre isso, prefiro dar mais tempo ao tempo: eu sou obrigado a acreditar no meu destino. (isso é outra conversa que só Rogério entenderia). Tem um livro chamado: o hospício é deus. Eu queria ler esse livro. Foi escrito, penso, neste mesmo sanatório. Vou pedir a alguém para me conseguir esse livro.
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