domingo, 19 de maio de 2013

Seu amor me beija a testa

por Tâmara Abdulhamid


Às vezes eu duvido que você me conheça tanto assim. Eu forço minha memória para lembrar de você desde a infância, porque acho que viemos de lá. Deve ter sido ali que começamos a brincar e, um dia, eu talvez  tenha soprado nos seus ouvidos tudo sobre mim. Falado assim, ligeira, contando segredo sem maldade e tenha saído correndo, aos pulinhos esperando a nossa próxima brincadeira. E você talvez tenha guardado tudo o que eu disse. Pendurado no pescoço e enterrado na sua cápsula do tempo para hoje me abrir, me desnudar para mim.

Acho que você filma os meus pensamentos, ou talvez tenha contratado um arranjo, um meio de saber o que penso. Porque em todas as nossas conversas, eu termino olhando para trás rindo e não te vejo, e então me assusto com você na minha frente, sempre à minha frente, me ultrapassando, me traduzindo, me interpretando, me antecipando.

Você e esse seu amor antigo. Esse seu amor que é de homem, mas que é também amigo. Que me trata como uma rosa, amando meus espinhos. Eu sinto você beijando minhas pétalas, a ponta do meu nariz, e me abençoando com um beijo na testa.

Seu amor me abençoa. Seu amor me guiou a vida. E eu nunca tinha visto. Porque sempre olhei para trás, meu rapaz. Eu sempre te procurei no lugar errado. Mas, você estava na frente. Você me ama com amor de futuro. Você me olha com sua alma antiga, de quem aprecia coisa boa, coisa eterna. Você não me vê agora, essa garota besta e dual que sou. Você me namora desde a eternidade e já dedilha com  paixão as rugas que coroam meus olhos. Você é meu atemporal. Você bagunçou a minha vida e desorganizou meus padrões. Você bagunçou a minha cama, desarrumou os meus lençóis, você revirou o meu conto de fadas.

Com amor. Com seu jeito de amar o meu jeito de sorrir com o rosto todo, esse seu olhar de eternamente, seu olhar que me melhora, que me cura, que me metade. Você me parte.

Você ouve tudo o que eu falo, e me absorve. Bebe as minhas palavras com o ouvido e se abaixa para colher as gotas que caem. Você me guarda dentro de si. Você é o amor que eu pedi e joguei no mar fazendo prece. Quando encontrou, destampou minha voz no ouvido, e dançou comigo nos meus sonhos. Hoje você se revela.

Era para sua ausência ter causado a minha desgraça. Era para eu ter ficado tão embaraçada com a falta de você a ponto de ter desintegrado os meus sonhos em água derramada nos seus pés. Mas, não. Você me manteve em um lugar bonito. Dentro de um altar por tantos anos, você me preservou.

Era para sua ausência ter me guiado para longe de você. Mas, ela me trouxe de volta. Ela conduziu minhas mãos às suas, ajustou meu formato ao seu. Com esse seu amor forte, de longe, você continuava a me abençoar. Com seu amor velado, me beijava no ar. E, hoje, seus olhos me vestem de pureza, e me cobrem de ternura sob a luz dessa sua mansidão.

Vem e me acalma, que hoje minha alma consegue ser abrigo de tudo o que você é, por inteiro. Caminhemos nesse enfim.
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3 comentários:

  1. Alô querida!

    Que coisa boa o texto por aqui! :)
    Fiquei feliz por me hospedar nesse teu chamego.

    Um beijo,
    da miss

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    1. Menina seu texto é pra lá de bom, obrigada eu <3
      Virei leitora assídua.
      Beijo :*

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    2. E eu também.
      Nos ganhamos.

      Um beijo doce.

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