Por Verônica Fantoni
Hoje, na terapia, falei sobre você. Falei desse jeito que você olha pra minha boca quando fala comigo e do jeito que você olha pra baixo quando sorri sem graça. E também que você passa a mão no alto da cabeça quando não sabe o que dizer. Eu disse que o seu cabelo é ralo e que acho que um dia você vai ficar careca e ser o careca mais bonito da cidade.
Eu disse que gosto quando você me dá a mão e não apenas a segura, mas intercala os seus dedos entre os meus e sinto como se nossas mãos estivessem travadas por esses ossinhos que ficam no meio dos dedos e então nunca mais fossem se soltar. E contei pra ela que eu cogitei não comer camarão nunca mais na vida pra ser solidária à sua alergia.
Falei que você faz a barba quando vai me encontrar, talvez porque eu nunca tenha dito a você que adoro você com a barba por fazer. E disse também que você acorda com os olhos adoravelmente inchados e por esse motivo eu gostaria de te ver acordar todo dia. Mentira minha, não é só por esse motivo, é por muitos tantos outros que eu poderia até tentar listar. E eu disse que você pensa que acorda com mau hálito, mas eu gosto de todos os seus cheiros, porque, eles são seus. E, porque são seus, são meus também.
Eu contei pra ela que queria morar no seu abraço, porque quando você me abraça, a minha cabeça repousa no seu cangote em um encaixe perfeito. E que cangote é uma das minhas palavras favoritas da língua, ao lado de afeto e cafuné. E por falar em língua, eu falei que quando a minha boca fica no alcance do seu queixo, eu tenho vontade de morder você até chegar nos seus lábios, que são bonitos. E que nunca, em outro momento da vida, o meu corpo se sentiu tão absolutamente à vontade quando no encontro de outro corpo.
Eu contei pra ela que, quando você chega, o meu dia se enche de luz solar e a minha noite, de estrelas. E que tudo com você é mais fértil e colorido, que você me faz acreditar em destino, em sonhos, em futuro. É por isso eu gosto de pensar que você está sempre por perto, mesmo quando você não está.
Eu disse a ela, que toda vez que você diz que vai embora, eu choro porque acho que ainda não é a hora. E que, se toda pessoa tem um lugar no mundo, você é o meu lugar.
Ela sorriu.
E me viu chorar.
Verônica foi autora convidada do Confeitaria. A publicação original é essa aqui.