sábado, 26 de maio de 2012

Morder-te o Coração

Percebi que não indicamos muitos livros por aqui, que coisa mais feia, afinal, é a eles que recorremos no final (no início e no meio também). Morder-te o Coração é um livro português sobre encontros e desencontros, sobre o que ficamos esperando ou imaginando do que é passado, sobre o que realmente acontece quando o passado volta.

Uma sensibilidade incrível vinda dos dois lados, uma inconstância, um vazio, mas uma beleza tão marcante. A quem interessar, deixei o release logo a abaixo. Se fiz bem meu trabalho e interessar mais ainda o que Patrícia Reis tem a dizer, você encontra o livro bem fácil na Livraria da Cultura (não procurei pra saber, então se não encontrarem, perdoem a falha).


No labirinto difícil do amor, um homem acredita ter encontrado a sua outra voz, o seu avesso: uma mulher de quem nada sabe, apenas um conjunto de mentiras, pequenas e grandes, que ela construiu para melhor servir um amor de verão. Para ele – o homem desta história –, o sentimento tem a força de uma vida inteira. 
Depois de perdê-la, ele a procura como se nessa busca estivesse a sua essência, o melhor de si. Procura pelo mundo inteiro, pelos países que ela confessou ter conhecido (terá?), pelas cidades que relatou com paixão. De uma ilha portuguesa a Veneza, o homem perde o rastro dela e perde-se na tristeza infinita de saber que o seu destino falhou. O amor visto por um homem tem o poder e a dor das coisas maiores. 
Em Estocolmo, na cidade fria, o personagem refaz a sua forma de viver, de estar com os outros. Encontra uma outra mulher, que não sendo ela, a mulher da sua vida, é alguém que pode abraçar todos os dias. Uma mulher que não faz perguntas, silenciosa, que bebe demais e que o empurra para um triângulo amoroso com uma amiga de origem angolana. 
Há, em Morder-te o coração, a procura do sexo como instrumento de sobrevivência, como mais-valia de calor humano que nos protege e defende da solidão. 
Entretanto, em Portugal, a primeira mulher faz o relato da sua infância, do dia em que perdeu o coração, a mãe, o alcoolismo do pai, os homens que a violentaram e perseguiram, o desejo de recomeçar, a tentação da mentira, o fascínio da fotografia, uma tentativa de suicídio. As duas histórias misturam-se. Ele e ela, e ainda ele com mais duas mulheres. 
Por mero acaso, ele encontra o rosto do amor na internet e foge de Estocolmo numa derradeira tentativa de cumprir o seu destino de felicidade. Porque acredita que ainda é possível. Porque há acontecimentos maiores do que a razão. O que sucede depois são uma sucessão de pequenos acontecimentos que marcam em definitivo os destinos dos personagens. 
"Morder-te o coração" não é uma clássica história de amor. É fruto do tempo alucinado em que vivemos. Para o melhor e para o pior.



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