quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

6.

Por Letícia Novaes


6. Terminar uma relação é porrada. O ouvido apita um "i" agudo sem parar. O chão abre, a sua comida favorita não tem gosto, o álcool desce como água. Você lembra dos planos que ficaram no coração, dos filhos que ficaram no saco escrotal, nas viagens que não rolaram, você pensa nos seus pais, você se frustra, você esperneia, você implora, você acha que é melhor assim mesmo, é montanha russa, mexicana, paraguaia, drama em vários atos, novela, horror. Mas...mas é inconcebível para mim, esfarelar o amor. Resumir ao pior. Não consigo. Se passei quase 6 anos amando um homem, não consigo sair da relação abraçada à frustração ou ao caos interno. Ou à raiva ou a qualquer outro sentimento de mágoa. Os amigos questionaram, ficou todo mundo espantado. Você está bem mesmo, Letícia? É óbvio que passei noites comendo cocô e ao invés de lavar o cabelo com shampoo caro eu só chorava embaixo do chuveiro. Perdão, toda água do mundo, compenso de outras maneiras. Mas eu tenho uma péssima tendência a ser feliz. Me perdoem, terapeutas, remédios, me perdoem. Que mania besta essa de querer rir, gargalhar, amar. E que memória absurda e companheira que só guarda os momentos astrais e de entrega absoluta e de fé e força. No amor. Lucas, sinto muito, me perdoe, te amo, sou grata. Feliz 2mil&14 pra você!

Leia os outros 12 Fatos sobre 2013 no Ornitorrinco.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Falo de Coração



Desde o último cd do Letuce eu tenho estado ansiosa para dar essa notícia. Na real eu nem sabia que era possível, mas tá pronto, tá lançado e tá disponível aqui! Sim! 

O álbum solo do Lucas Vasconcellos. A voz é maravilhosa, as composições também. E pra quem criou apego as faixas que ele canta no Manja Perene, prato cheio! Ah, tem participação da Letícia, claro.

"Falo de Coração". É esse o nome do álbum e não podia ser outro, dar em outra, de outro jeito... Falar de coração é o que basta.

"um aquário de estrelas brilhantes
mil verdades cósmicas 
e cartas sobre a mesa
só que no céu
as cartas não estão marcadas
direto ao que não interessa
eu tenho essa noite e o resto da vida."
Flor de Tudo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Não Repare a Bagunça

por Mariana Reis

Foto: weheartit.com


Disse que ia passar e passei. Fui entrando. Você veio de cara limpa, roupa macia e uns três quilos a menos. Estiquei o rosto pra beijar sua boca de surpresa, passei pelo elevador, pela porta, fui entrando. Ocupei um canto da cama, único móvel do apartamento novo. Seu corpo nunca esteve tão bonito, eu nunca quis tanto dizer nada. Sobre isso, sobre nós, sobre os pelos do seu peito.

Não queria dizer que vi duas moedas atrás da TV e a Coca-Cola sem gás no chão. Gostei da bagunça, da mala revirada, achei engraçada a pilha de livros. Nunca quis tanto não dizer da vontade de encher sua geladeira de mostarda – que gosto cada um tem o seu e eu gosto de você, cara.

Disse que que ia passar e passei, mas de palavra precisa? Continuei calada nos seus travesseiros novos até o momento que você coube inteiro no meu colo. Foi entrando. Mudos de ausência, o sino da igreja gritou só pra misturar os nossos sonhos. E eu, que disse que ia só passar, fiquei.

Com preguiça, coloco agora meus pés, coxas e peitos pra fora do apartamento novo, direto na manhã azul. Você marcha longamente ao meu lado, sem saber se mãos dadas ou não. O próximo passo é a esquina cheia de sol e crianças que riem demais. Vou solta, em silêncio. E você nem olha pra trás quando cruzo o farol vermelho.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

#PlaydeSegunda balada da noite perdida


Aqui na Bahia não tem horário de verão, então teoricamente ainda é segunda. Ou seja, ainda é dia de Playlist. Essa coisa de uma playlist por semana é maravilhoso, um super exercício de memória porque geralmente começa com uma música que tá martelando na cabeça e sabe-se á como é que termina.

A de hoje ficou meio melancólica, mas foi um reflexo bem nítido da minha semana. Assisti alguns filmes que tinham Bob Dylan, Velvet Underground e Strokes como trilha sonora, aí uma canção foi puxando outra e acabei resgatando muita coisa que eu não ouvia faz um bom tempo.

Vamo, solta o play antes que a segunda acabe.


#PlaydeSegunda balada da noite perdida by Maria Eduarda Carvalho on Grooveshark

domingo, 1 de dezembro de 2013

"Lo siento, perdona-me, te amo, gracias"



Demorei um mês quase inteiro para conseguir ouvir falar de novo do Devendra Banhart. Motivo: ele no Brasil e eu não. Não que eu estivesse fora do país, estava apenas fora da rota de shows, do eixo que tem capital e público, do ambiente propício a possibilidade "Devendra Banhart no Brasil" ser minimamente possível.

Mas não é lamentação, ou pelo menos não essa lamentação, o principal objetivo desse texto. Então, mesmo submersa num mundo virtual, mantive-me preservada à notícias, fotos, babados e confusões que pudessem remeter ao episódio quase inédito. O motivo não foi inveja dos que participaram da turnê, foi mais um mal estar por idealizar um momento que chegou na hora errada. De novo, o foco não é a pura lamentação, perdão.

Em novembro, algumas páginas da Revista TPM que mensalmente adquiro nas bancas mencionaram o que eu temia. Não somente a notícia do show, mas todo um perfil sobre o cantor e compositor escrito por minha jornalista favorita, com fotos de um dos meus fotógrafos prediletos. Terror! Passar pelas páginas era 'nostálgico', só a chamada da matéria já me destabilizava e a ciência da proximidade do cantor não me deixava nada confortável. 

O ttempo deu conta de levar o Devendra daqui e com ele os meus bugs também [I'm not insane, my mother had me test] e hoje, bem por acaso, li a matéria, aqui, na internet.

Na entrevista entre outras delícias, Milly apresenta a Devendra um mantra havaiano: "Lo siento, perdona-me, te amo, gracias". Rapidinho as palavras se encaixaram e fizeram total sentido desatando os nós do fim do ano.

Explico: Todo mundo tem mês onde tudo dá errado, nada caminha e todos os questionamentos do mundo batem a porta, coisa de fazer um "ser ou não ser" parecer fichinha. Alguns chamam isso de inferno astral e juram ser o mês que antecede ao seu aniversário, o meu eu chamo de Dezembro, e nada tem a ver com a astrologia, já que faço aniversário em Setembro.

Dezembro, fim de ano, uma falsa impressão de que todas as pessoas vão cantar hinos de natais com suas famílias enormes e depois vão comer e tudo vai acabar bem. Não é bem assim, a gente sabe que não. Família não vira família só por conta de um bom velhinho ou um menino numa manjedoura. Dezembro é só uma série de expectativas .RAR que não fazem sentido algum se descomprimidas, porque aí vira a mesma maré de questionamentos que temos em todos os outros meses...



Mas e o mantra? Aí é que tá. Além das pressões do Natal, a chegada de um novo ano também te obriga a planejar, confabular e se enganar um pouco fingindo que ano que vem vai ser tudo melhor. Não é que não vai, eu não o Grinch, só acho injusto as mudanças de toda uma humanidade erem que esperar dia 1º de Janeiro para começar.

Então fica assim, sem esperar um mês para isso, a partir de hoje meus planos, projetos e anseios vão ser simplesmente  "Lo siento, perdona-me, te amo, gracias" e deveriam ser do resto da humanidade também.

Ao fim da entrevista, Milly pergunta a Devendra o que as mulheres querem, ele responde: “Acho que querem consistência, honestidade, alguém que seja capaz de dizer com o coração: ‘Lo siento, perdona-me, te amo, gracias’”. Só.